quinta-feira, 21 de novembro de 2013

MENSALEIRO NÃO É PRESO POLITICO, DIZ JEFFERSON

Recluso há uma semana em sua casa no interior fluminense, onde espera a ordem de prisão do Supremo Tribunal Federal, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) decidiu voltar ao ataque.
Em entrevista à Folha por telefone, ontem, ele criticou o desafeto José Dirceu e classificou como "absurda" a postura do ex-ministro de se apresentar como preso político. 
"É a mesma coisa que ele dizer que foi cassado por um Congresso de exceção. Não tem cabimento", afirmou o autor da denúncia do mensalão, em 2005.
Jefferson disse que o Brasil é uma democracia e que 8 dos 11 ministros do STF foram nomeados por governos do PT. Acrescentou que a corte respeitou o direito de defesa dos réus e transmitiu o julgamento ao vivo, pela televisão.
O petebista sugeriu que corre risco de vida se for preso no complexo da Papuda, em Brasília. Disse que sua relação com os réus petistas, como Dirceu, é "complicada". E que o presídio abriga homens condenados pelo assassinato de um juiz, em julgamento do qual ele participou como assistente de acusação.
Oito anos depois, Jefferson disse não se arrepender de ter denunciado o mensalão --o que lhe custou o mandato e, agora, a liberdade. Ele foi cassado na Câmara e condenado a sete anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele nega os crimes.
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Dirceu e prisão política
Isso é um absurdo. Não emplaca, não cola. Nós vivemos uma democracia plena no Brasil. Os três poderes trabalham com total liberdade. O julgamento foi feito às claras, transmitido pela TV.
Que preso político é esse? [referindo-se a José Dirceu]. É a mesma coisa que ele dizer que foi cassado por um Congresso de exceção. Não tem cabimento. Se eu disser isso, você vai rir de mim.
Só os três reclamam, o Dirceu, o [José] Genoino e o Delúbio [Soares]? E os outros que não reclamam? Eu não vejo o Romeu Queiroz ou a Kátia Rabello reclamando.
Eu respeito e entendo o sofrimento deles, mas é o "jus esperneandi". Eu não vou fazer isso.
O Supremo [Tribunal Federal] tem só três ministros que não foram feitos pelo governo do PT. Os outros oito foram nomeados pelos governos Lula e Dilma. Não estamos na Venezuela do Maduro, no Equador, em Cuba.
Sem arrependimentos
Faria tudo de novo, sem arrependimentos. Acho que valeu. Foi uma denúncia de peito aberto, na luta política. Respondi a uma armação indigna que a Casa Civil montou contra mim, naquele caso do Maurício Marinho [ex-funcionário dos Correios que foi acusado de receber propina com aval do PTB].
Eu avisei a eles: ou vocês arrumam isso, ou vai ter troco. Eu não saio pela porta dos fundos. Saio pela porta da frente. Eu luto como um urso. De pé e de peito aberto.
Desafetos na cadeia
Se eu for para a Papuda, vai ser uma situação muito ruim, muito delicada. Tem muita gente inamistosa, com quem eu tenho uma relação complicada. O Zé Dirceu, o Genoino, o Delúbio.
Também pode ter desentendimentos com o Valdemar [Costa Neto], o Pedro Henry. Minha relação pessoal com eles é horrível. Como é que vai ser? É muito difícil.
Fui assistente de acusação no caso do assassinato do desembargador Irajá Pimentel [morto a tiros em 2002, em Brasília]. Condenei oito caras por homicídio. Estão todos lá na Papuda. O ambiente é muito hostil para mim."
Saúde e prisão domiciliar
Estou bem de saúde. O câncer está curado. O inconveniente é o metabolismo. Tenho que seguir uma dieta balanceada e tomar um monte de injeção, o que eu não desejo para nenhum inimigo.
Fizeram uma limpeza em mim [na cirurgia]. Não tenho mais duodeno. Perdi quatro quintos do estômago, fígado, um pedaço do pâncreas, um metro e meio de intestino.
O câncer eu tenho a impressão de que não vou ter mais, graças a Deus. Foram seis meses de quimioterapia. Mas tenho desabsorção [de vitaminas], diabetes e anemia. Fiquei igual a um sabiá gigante [risos]. É o papai que diz isso: um sabiá gigante! Preciso ir ao banheiro oito, dez vezes por dia.
Meu advogado está fazendo um esforço monstruoso pela prisão domiciliar. Não posso comentar, mas torço.
A ginástica é recomendação médica. Se puder escolher, prefiro ficar em Levy Gasparian [cidade no interior do Rio, onde espera a prisão]. É mais tranquilo, tenho espaço para caminhar. Aqui eu fico melhor

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