domingo, 22 de junho de 2014

MANIFESTAÇÕES POPULARES PERDEM FORÇA DURANTE A COPA

Manifestante segura cartaz durante protesto contra a Copa do Mundo, no centro de Brasília (Carlos Moura/CB/D.A Press)
Manifestante segura cartaz durante protesto contra a Copa do Mundo, no centro de Brasília

As reivindicações que foram levadas às ruas das cidades brasileiras em junho do ano passado não foram esquecidas. Embora tenham perdido força, os protestos continuaram nos meses seguintes, como as ocupações de Câmaras de Vereadores e as greves de professores no Rio de Janeiro e dos rodoviários em São Paulo.

Na Copa do Mundo, entretanto, os atos chamados pelos movimentos sociais, sobretudo pelos Comitês Populares da Copa, não têm surtido o mesmo efeito. Poucas centenas de pessoas têm participado dos protestos, que ocorrem simultaneamente aos jogos.
                    
Para Lucas Oliveira, integrante do Movimento do Passe Livre (MPL), que coordenou em junho do ano passado as manifestações em defesa da redução da tarifa do transporte público em São Paulo, a pauta da redução dos R$ 0,20 na tarifa faz falta.

“Ano passado, a gente tinha uma demanda muito objetiva colocada. Esse ano não existia uma demanda específica.” Ele também cita o cansaço como um dos fatores para o esvaziamento dos atos. “A gente fazia um ato a cada dois dias e dormia em média quatro, cinco horas por noite.” A mobilização, contudo, não parou. Oliveira defende que atos menores, mas constantes, além de ações nas comunidades, continuam sendo feitos. “Estamos acumulando.”
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Já o cientista político Leonardo Barreto aponta a violência como motivo para a mudança no perfil das manifestações. Ele lembra que muitos dos atos terminaram em cenas de violência e depredação protagonizadas pelos black blocs, ativistas que defendem a ação direta como forma de chamar atenção e desafiar o Estado. Em fevereiro deste ano, o cinegrafista Santiago Andrade morreu depois de ser atingido por um rojão disparado por um desses ativistas, em meio a um protesto.

“Os protestos perderam muito apoio depois que isso aconteceu. As pessoas ficaram com medo de serem expostas”, diz Barreto, explicando que os atos deixaram de contar com o “protestante de ocasião”, pessoas que não são vinculadas a grupos políticos. “Nas marchas de junho, você escutava os amigos dizendo que levariam os filhos para ver. Hoje, você vê pais pedindo para os filhos saírem dos atos.”

Já Sandra Quintela, integrante do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs) e da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop), aponta a violência policial como um dos motivos para a mudança. Para ela, há uma militarização muito forte das forças de segurança. “Esse é o grande legado da Copa: a militarização recente, seja a nível local, com as guardas municipais, estadual, com as policiais Militar e Civil, e nacional, com as Forças Armadas.”

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