sábado, 16 de setembro de 2017

A DUPLA QUE SACUDIU O BRASIL.

Os empresários Wesley (dir.) e Joesley Batista (Foto:  Zanone Fraissat/Folhapress)
“Nós não vai ser preso.” Carregada de sotaque interiorano, a frase do empresário Joesley Batista, um dos donos do J&F, controlador do frigorífico JBS, foi captada pelo interlocutor – e executivo do grupo –, Ricardo Saud, e por um gravador (até onde se sabe, ligado inadvertidamente). Era março, e ambos estavam no desenrolar da negociação da delação premiada que levaria o nome do presidente Michel Temer para o oceano de lama revirado pela Operação Lava Jato. Sob efeito de álcool, não perceberam que o equipamento registraria não apenas a frase, mas provas que derrubariam a delação. Wesley Batista, irmão de Joesley, não se atrapalhou com gravador e álcool, mas também acaba de entrar para a história. Uma investigação da Polícia Federal encontrou indícios de que ele, com o irmão, negociou nos mercados de ações e câmbio às vésperas da revelação do acordo que fizeram com o Ministério Público. Era esperado que sua publicidade derrubasse a Bolsa e fizesse o dólar disparar na quinta-feira dia 18 de maio, o que, de fato, ocorreu. Comprando e vendendo na hora certa, a dupla obteve resultado de R$ 240 milhões, segundo a Polícia Federal. Nesta semana, os irmãos foram presos – Joesley no domingo, dia 10, e Wesley na quarta-feira, dia 13. Nos dias seguintes, Joesley se tornou caso de estudo, por perder os benefícios que havia conseguido na delação premiada. Wesley foi o primeiro preso no Brasil acusado de negociar com informação privilegiada no mercado financeiro.
Trata-se de um cenário completamente diferente daquele 17 de maio, em que se tornou pública a delação do grupo. Fazia parte do rol de revelações o estarrecedor áudio da conversa entre Joesley e o presidente Michel Temer, gravada em março – aquela em que o presidente o ouvia relatar o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro, réus na Lava Jato, e respondia “tem que manter isso”. Nos três meses seguintes, pareceu que nada os levaria à cadeia.

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