domingo, 22 de abril de 2018

ENTREVISTA DE GLEISI HOFFMAN CAUSA CONFUSÃO NO MUNDO ÁRABE


O alerta para o quarteirão, o bairro, a cidade e a segurança nacional veio pelo WhatsApp da academia: “olha o que esta débil mental esta (sic) divulgando para os terroristas do Estado Islâmico…pqp cadê a Procuradoria Geral da República??? Cadê o Senado Federal?”.
A mensagem continha o vídeo de uma entrevista da senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, à TV Al-Jazira, do Catar. Chegou na sequência de uma imagem truncada de alguém que parecia ser a parlamentar aos beijos com o ex-presidente Lula. Por fim, um novo vídeo, desta vez com um deputado do PSDB, cujo ex-presidente se tornou réu do Supremo Tribunal Federal nesta semana, condenava a fala da senadora. Tudo em sequência, e com a distância de alguns minutos.
Não vou entrar no mérito nem do discurso nem da réplica. Jogo político é jogo de interposições, e nem sempre os lados distintos querem a mesma coisa. Este jogo prevê o direito de falar o que se quer e de rebater o que se considera “absurdo”, de preferência no mesmo canal.
A encrenca aqui é outra.
Para quem acredita que a polarização da última campanha se encerrou com o impeachment de Dilma Rousseff, a prisão de Lula, a queda livre de Aécio Neves e a até aqui inviável caminhada de Geraldo Alckmin à Presidência, a suposta confusão entre uma TV árabe e um grupo terrorista é o melhor alerta do que vem por aí.
A polarização do passado não produziu apenas rusgas no presente, mas também um jogo sujo. Vale também para quem compartilha notícias sobre a falsa filiação do juiz Sergio Moro ao PSDB e outras bobagens.
Há algum tempo abdiquei de entrar em divididas políticas nos meus círculos de relacionamentos pessoais, virtuais ou não. As razões são muitas: não tenho primazia da verdade, não sei onde a verdade está, não é agradável nem producente tentar convencer ou ser convencido por alguém a mudar de ideia. Do outro lado da conversa há sempre o risco de estar um fanático, e não alguém disposto a conversar. É de bom tom não nos tornar um deles.
Mas quem se propõe a ler notícias checadas, e sobretudo trabalhar no ramo das notícia checadas, tem a obrigação de alertar, inclusive nos nada inocentes grupos de WhatsApp, quando o cheiro de Fake News inunda o recinto.
A expressão, já batida, é relativamente nova, mas a estratégia é mais antiga do que a Velha República. Bem mais.
Na Nova República pós-impeachment, de comunicação online e divulgação apressadas de mensagens a reboque das convicções, e não dos fatos, as Fake News se tornaram ferramentas de intervenção e obstrução política. Tem na ignorância de quem não sabe o que compartilha, e na má-fé de quem sabe muito bem, o seu latifúndio mais produtivo.
O discurso da senadora não era novo nem foi replicado pela primeira vez fora do Brasil. O problema, conforme perceberam seus detratores, eram as letras em idioma árabe. Com aquela pitada de má-fé, perceberam ser possível transformar o tsunami de ignorância em medo. Nada mais assustador, afinal, do que a suposta aliança de um partido político com o famigerado Estado Islâmico.

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